sábado, 12 de fevereiro de 2011

A vida do ateu

A vida do ateu

A vida é complicada para nós ateus. Por acaso, temos nosso próprio feriado? Já puderam alguma vez na escola, faltar à aula por ser dia do orgulho ateu? Um dia no qual não faríamos absolutamente nada da vida, para celebrar o nada em que o ateu acredita. Não, nós não temos feriados. Até o kwanzaa tem. Você sabe o que kwanzaa significa? Eu também não faço a menor idéia. Mas eles têm feriado.
            Existe a possibilidade de alguma pessoa, ao avistar um negro, mudar de calçada com medo de ser assaltada. Se contar a um amigo que é gay, corre o risco dele terminar a amizade naquele exato momento. Provavelmente com medo de levar uma cantada de você. Agora, se contar a uma pessoa que você é ateu... Aí, nem Deus te salva.
            Deixe – me contar uma história. Não é daquelas que aconteceram com um amigo de um amigo meu. Essa ocorreu comigo mesmo. Assim como o Papai Noel e Deus, eu achava que seis horas da manhã era um horário que não existia. Tratava-se apenas de uma lenda criada pelo meu chefe, com o propósito de me acordar cedo e me irritar. Recusei todos os trabalhos que me pediam para acordar nesse horário. “Ele está debochando de mim”, eu pensava. Porém, esse horário realmente existe. Eu sei, fui acordado por duas velhinhas extremamente religiosas. As seis da manhã. Queriam me falar sobre Deus. Como se eu nunca tivesse ouvido falar no sujeito. Disse rispidamente: “Não, obrigado”. Elas perguntaram por quê, se eu era de uma outra religião... E eu, ingenuamente, conto a verdade: “Sou ateu”. Não deu outra. A primeira velhinha passa a mão pelo portão de minha casa e agarra minha camiseta num movimento extremamente veloz, à lá Jackie Chan. Com a outra mão, ela bate furiosamente em minha cabeça com a bíblia. Nem Jack Bauer seria tão cruel e hábil em suas sessões de tortura. A outra velhinha começa a orar, pedindo que Deus perdoe esta criatura pecadora, no caso eu, o agredido. Só pararam quando minha mãe chegou e começou a brigar com elas, numa espécie de Ultimate Fighting, versão para idosos. Agora, vamos esquecer o fato de eu ser tão fraquinho fisicamente que apanhei para duas velhinhas e tive de ser defendido pela mamãe. Vamos ao que interessa. Por que diabos eu apanhei?
            Embora ateu, eu sempre procuro respeitar a religião dos outros. Tenho amigos cristãos. Fazemos piadas um com o outro normalmente. Eu sempre pergunto a ele: “Por que Deus, enquanto dava aquele discurso da maçã proibida, não deu um pequeno aviso a Eva, sobre uma certa cobra mentirosa que andava pelas redondezas?” Ao passo que ele, quando vou comemorar o natal em sua casa, demora a me oferecer comida. “Se eu não acredito em nada, não irei comer nada” São comentários inofensivos, de pessoas que não levam suas crenças tão a sério. Não a ponto de agredir alguém. Eu nunca fui à igreja gritar para todos: “Deus não existe. Isso é apenas uma história bonitinha contada aos judeus, para distraí – los do fato de que eles estavam andando por quarenta anos no deserto, numa época que não existia ar condicionado”. Nunca fui à igreja desenhar um bigodinho no quadro de Jesus. A igreja é o espaço deles. Eu respeito. Eles vêm na minha casa me bater com uma bíblia.
            Isso não é caso isolado. A igreja tem a tendência de se meter em assuntos que nada tem a ver com ela. Eles são como sua mãe em seu estado mais mandão. “Foda – se você gostar de doces. Vai comer a salada e ponto final.” Sem discussão, sem argumentos. Para os religiosos fanáticos, só existe a sua própria crença e o resto que se curve a ela.
            Pode até ser que Deus, assim como o horário das seis da manhã, exista. Posso estar enganado. Posso um dia chegar ao céu e me encontrar com o todo-poderoso carregando um olhar irônico como quem diz: “Então, você é o cara que não acreditava em mim, não é?” Todavia, até lá, gostaria de ter minha opinião respeitada. Não vai acontecer. Vou sofrer como um ateu. Que seja. Manterei minhas opiniões, independente da quantidade de velhinhas lutadoras de kung – fu que me apareçam.


Um comentário:

  1. Bruno... tudo que é fantaismo acaba por nos distanciar! Também detesto fanatismo e sou a favor de que "cada um, com seu cada qual"!
    Mas, que foi bem dada a surra foi! KKKKKKKKKKK
    beijo no coração

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